22 de maio de 2009

Aculturação II

Durante os 3 meses que estou no Brasil, vou fazendo a minha aprendizagem da cultura brasileira. A mais imediata foi a gastronómica, por razões óbvias, claro. Com o passar do tempo e conforme as necessidades, outras aprendizagens surgiram.
Primeiro é engraçado perceber que somos diferentes, depois vem a fase das comparações, porque em Portugal não é assim, porque fazemos assado, porque dizemos de forma diferente, etc.
Logo a seguir vem a fase do espanto. Como é que é possível?!?! Mas esta fase não nos leva a lado nenhum. Sei por experiência própria. Não é fácil ultrapassar a fase do espanto, acreditem. Os dias vão passando e já sei que gastar energia a questionar o porque das coisas, ou a perguntar-me como é que é possível, não me leva a bom porto. Vem então a fase da aceitação. E é nesta fase que tudo se simplifica e complica ao mesmo tempo.
Simplifica, porque já sei que é preciso ter calma, porque já não me chateio, porque dou por adquirido de que aqui tudo tem um ritmo próprio. Não adianta reclamar, barafustar, é aceitar.
Complica, porque se quero algo resolvido, sei que vai demorar e com jeito nem se resolve.
Então... então há que aceitar as diferenças e incorporar o temperamento brasileiro.
Por exemplo:
Se perguntarem a um brasileiro se sabe onde fica determinada rua, ou local, ele vai sempre responder que sim. O curioso, é que mesmo que ele não saiba, nunca vai dizer que não. Vai dar sempre uma indicação, completamente convicto do que está a dizer, não importa se está correcta ou não. Este povo não gosta de dizer não.
Fica um sentimento misto, por um lado não se houve um não redondo, a vida fica mais bonita mais simpática, mas depois complica, porque vamos na direcção errada, porque ficamos sem resposta, porque o que queremos resolvido não fica.
Mas o mais engraçado, é como se absorve outra cultura, todos os dias, sem me aperceber, de forma subtil.
O resultado imediato é o meu português, esta cada vez mais “abrasileirado”, com expressões de cá, com gerúndios, com erros gramaticais que levariam as minhas professoras de português a carregar nas canetas vermelhas e a darem-me negativas, daquelas bem grandes.
Depois vem aquilo que não é mais evidente. No outro dia dou comigo a dar indicações a um brasileiro que me perguntava onde ficava um local. Sem saber ao certo onde ficava dei as indicações todas, mas com uma cara muito séria, de pessoa que estava completamente convicta do que dizia.
Coisa engraçada, isto de aculturação.

1 comentário:

NUno Várzea disse...

Bom artigo para a VisãoContacto (http://beta.networkcontacto.com/visaocontacto/default.aspx)